
Tem dias que sou triste, olho no espelho e vejo uma rosa ao final de sua plenitude de beleza, prestes a cair à última pétala. Nesses dias, sou mulher sozinha, sou mulher que carece de palavra, sou menina que carece de sorriso, sou recém-nascida que carece de olhar. Às vezes a inércia é tanta que demoro horas para fazer o simples movimento de piscar os olhos. Nos dias que sou triste, olho para mim, olho para dentro e não para fora. Compadeço-me de minha própria solidão. E então, me comparo a um cacto, desejo sê-lo. Não por seus espinhos, mas pela forma e plenitude que o faz necessitar de tão pouca água para embelezar o imenso deserto. Tento não ter dias como esses, mas nem sempre consigo passar pela avenida contrária do destino.
Tem dias que sou feita de sorrisos, outros feita de lágrimas. Sorrisos de lembranças de todas as coisas boas vividas e lágrimas de saudades de pessoas que se foram e pessoas que me fizeram ir.
Em um dos 2.190 telefonemas, minha mãe me disse uma coisa dessas que escutamos as pessoas falarem todos os dias. Ela disse que quem inventou a distância não sabia a dor que era a saudade. Senti falta dela durante esses quase 2.190 dias. Derramei lágrimas à quantidade exata de dias, elevados ao quadrado e multiplicados pelo meu ¼ de século.
Amores? Não foram muitos nem poucos. Quando sonhava, amava ao extremo, chorava ao extremo, sofria ao extremo. Quando tentei viver os sonhos, algumas coisas mudaram, amei tanto quanto, chorei 10 vezes mais e sofri 100 vezes mais. Também já desisti de amar. Na verdade o amor entre homens e mulheres não passa de uma invenção das pessoas para terem motivos de colocar a culpa de sua infelicidade nos outros. Não precisamos de ninguém pra ser feliz. A felicidade está nas pequenas coisas, nos pequenos momentos, ela sai de dentro de nós. Depois que descobri isso, não cometo mais o erro de entregar a minha em uma caixa com um laço de fita vermelho a primeira pessoa que me oferece um sorriso.
Todos os dias como hoje costuma chover, quando era pequena ficava bastante triste porque achava que o céu estava com raiva por eu estar feliz e também porque minha mãe não me deixar sair para cantar enquanto tomando banho das lágrimas de São Pedro. Hoje acredito que chove para celebrar mais um ano, para lavar os erros e oportunizar as novas esperanças e conquistas.
Quando tinha 9, achei que ia morrer de amor, platônico é claro, por aquele garoto da escola que nem se quer olhava pra mim. Quando tinha 10, dizia que jamais ia sofrer por amor. Aos 13, me apaixonei, aos 16 desacreditei. Aos 19 quis casar e aos 24 vi que nada nunca valeu a pena, a não ser alguns sorrisos que foram se perdendo e que hoje lembro vez ou outra. Como agora.
Sou diferente das outras pessoas, gosto de errar. É assim que aprendo. Os erros dos outros nunca me impediram de fazer algo. Fui para o mundo, aprendi, vivi e aqui estou parada no ¼ de século. Meu ¼ de século.
Se me perguntar até quando quero viver, digo que até amanhã, até depois, até meio e até um século. Quero nada mais do que o necessário, pois a vida só é longa ou curta demais para quem não sabe viver.
Vivo hoje, lembrando o passado e querendo cada vez mais descobrir a flor que o amanhã me trará.
Feliz ¼ de século para mim e para vocês.
Lauro de Freitas, 19/05/2012
Rita Brito