quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O Enterro do Eu

Hoje fui a um enterro de um velho conhecido meu.

(...)

Quando cheguei lá estavam todos em silêncio, atônitos com a situação.
Parece que o defunto era um velho conhecido de todos, amados por uns odiados por outros como todos são nessa vida.
Pareceu-me que todos se perguntavam a causa da morte, mas ninguém sabia ao certo.
Procurei os familiares para prestar minhas condolências.
Não entendi porque falava e ninguém me ouvia.
Procurei a mãe, os irmãos, os tios... A dor era tão profunda que ninguém levantava se quer a cabeça.
Olhei ao redor... Todos os meus amigos estavam lá. Colegas de escola, com quem tinham convivido apenas alguns anos, os da pista de skate, os da faculdade, dos trabalhos que já passei, das igrejas que já congreguei... até aqueles que conheci em festas e nunca mais os vi.
Todos, sem exceção estavam lá...
Comecei a relembrar algumas coisas, casos da vida que vivi com cada um...
Pena que a tristeza era tamanha que não me deixou abraçar todos eles.
Andei mais um pouco para ver se chegava até o caixão e mais uma vez fiquei surpresa com a quantidade de pessoas presentes.
Avistei minha mãe de longe, quis chegar perto, mas ela estava próximo demais ao caixão. Não consegui.
Não conseguia mais me mover. Era como se meus pés estivessem acorrentados ao chão. Fechei os olhos...
(...)
Ouvi uma voz que dizia: “vamos minha neguinha, enfeitar o jardim da nova casa”
Reconheci a voz. Não a escutava há algum tempo. Hesitei ao abrir os olhos e quando os abri minha boca exclamou sem que eu pudesse controlar: “Pai”.
Recebi um abraço no qual já havia esquecido o teor e a intensidade.
Ele foi à única pessoa que conseguiu me ouvir naquela sala.
Convidou-me a olhar em volta, parecia um filme passando diante dos meus olhos.
Quando dei por mim, lá estava eu, deitada sobre mim mesma vendo pelo pequeno vidro a primeira pá de terra sendo jogada.
Quis me desesperar, quis sair, quis fugir, mas já não havia nada a fazer.
Foi então que vi a pessoa que julguei mais amar nessa vida pisar nas rosas plantadas no meu túmulo.
(...)
Acordei.
Mas não se engane como eu. Isso não foi um sonho.
Tudo não passou de uma realidade dura, fria e amarga.

Causa da morte: Amor intenso.
Data do óbito: 21/02/2012

Saudades eternas...


Um comentário:

  1. Olá meu anjo, boa noite!!

    Faz tempo que não temos o prazer de apreciar suas palavras, que saltam sempre com muito sentimento aos meus olhos. Bem, sei que o título nos remete a uma produção angustiante, melancólica, dígna de um texto barroco, mas, confesso, torcia por um sorriso seu ao final do produto... que claro sei que virá com os novos sonhos vividos.

    Abraço,
    LG.

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