sexta-feira, 21 de junho de 2013

CONSTRUINDO UM CASTELO

            Quis construir um castelo, imaginei toda decoração... Queria algo que durasse, nem precisava ser para sempre, só até essa vida acabar.
            Cuidei de tudo menos de uma coisa.
            Foi quando veio a chuva e na primeira tempestade as pilastras ruíram e os ventos vindos do sul o fizeram tremer.
            Me perguntei o que fazer? Nem tudo foi destruído, mas tudo foi abalado. Será que uma reforma resolveria? Certamente não! Uma construção tem que ser sólida do alicerce. Mas mesmo assim resolvi tentar. Fui arrumando cada quarto, cada corredor, mas tudo parecia tão difícil. Quando acabava um cômodo parecia que mais dois ficavam bagunçados.
            Algum tempo se passou e eu ainda tentava reconstruir.
            Um dia, cansada, sentei no jardim e olhei tudo a minha volta. Vi o Rei sentado também, descansando, mas não da reconstrução. Lembrei que ele jamais havia me ajudado. Pensei: como pode um Rei não querer ver seu castelo de pé? Aquilo me entristeceu por muitos dias. Tantas vezes quis desistir, mas algo me fazia acreditar que tudo ainda podia dar certo, que aquele sonho ainda poderia ser vivido.
            Meses se passaram e nada ainda estava de pé. Foi quando minha última faísca de esperança apagou.
            Decidi ir embora! Desistir e deixar tudo aquilo ruir definitivamente.
            Decidi pensar em mim, recomeçar em outro lugar e talvez começar a construção de um novo castelo. Dessa vez, posso até ainda não saber o que fazer, mas sei bem o que não devo fazer e manter o antigo Rei longe é a principal delas.


Rita Brito

18/06/2013

segunda-feira, 17 de junho de 2013

A PACIENTE

            Me disseram que estou doente, mas não acreditei.
            (...)
            Como posso estar doente se não sinto nada?
            Mas doente de que? Porque? Para que mesmo?
            Tantas perguntas e tantos medos...
            Segundos de incertezas...
            Soube que as doenças da alma são curadas pelo tempo, as do corpo nem sempre.
            Não questionei muitas coisas. Mas a primeira foi o porque dessa doença? Algo ainda tão incompreensível, tão brutal, que traz tanto sofrimento para todos que estão a sua volta.
            Ouvimos falar das doenças do século. Tantas pesquisas e experimentos e a cura ainda é algo tão incerto.
            Os médicos falam das chances de cura, do tratamento, da vida depois da cirurgia... Mas não falam do medo, da falta de fé que alguns dias bate a porta, do tempo de vida que você ainda terá.
            É bem difícil acordar um dia e saber que você pode morrer mais rápido do que imaginava. Saber que talvez seus últimos dias sejam lutando contra uma doença, e pior, lutando uma luta que você no fundo já sabe quem irá ganhar.
            Não tenho medo da luta, nem de como vou ficar sem cabelos. As vezes nem tenho medo... Mas as vezes também nem tenho forças.
            O que eu quero hoje?
            Que minha família não sofra; Que eu ainda tenha tempo de fazer tudo que quero; Que meus amigos nunca se esqueçam de mim e que eu possa reencontrar aqueles que não vejo há algum tempo; Que minha mãe cuide de meus filhos e que todos possam sorrir ao lembrarem de mim. Que eu possa não chorar quando chegar minha hora e que tenha força suficiente para sorrir até esse dia chegar.
            E até lá... Tentarei apenas sorrir, de um jeito que alguém um dia me ensinou a sorrir, pois tenho certeza que há um lugar em que o sol brilhará para mim.



Rita Brito
27/05/2013

17/06/2013