domingo, 25 de novembro de 2012

Visita a meu padrinho Padre Cícero

  
Quando à Juazeiro do Norte fui
Não sabia ao certo o que ia encontrar
Sabia que lá tinha uma estátua
De um Padre chamado Cícero
Onde pessoas do mundo inteiro já ouviram falar
                                                                                                                
Metade do caminho é pelo sertão
Onde vi muita pobreza
Os animais com sede
Sem mais poder levantar
Esperavam a morte chegar
Na beira da estrada


Açudes e rios sem uma gota d’água
Casas de taipa e de repente uma árvore
Sem se quer uma folha
E uma criança sertaneja lá do alto a olhar
Os carros que por ali passavam


O quanto de pobreza existe nesse Brasil
Nós só assistimos vez ou outra às notícias no jornal
Mas do nosso sofá
Jamais podemos imaginar
Que ela existe realmente
E milhões de pessoas sofrem dia-a-dia
E nem tem se quer um sofá
Pra sonhar um dia da miséria sair


Em uma das muitas cidades que passei
Um castelo encontrei
São José do Belmonte era o nome
Cidade pequena
Não consegui saber a história dele
Mas cada escultura parece mostrar
As crenças e valores históricos
De quem de tanto sonhar e idealizar
Um dia com cimento resolveu concretizar


Também encontrei muita riqueza
A elite do sertão é formada por grandes fazendas
Com belas piscinas
Que, olhando de longe
No meio de tudo tão seco
Me perguntei de onde vinha aquela água tão azul
Que por muitos quilômetros andei
E se quer um poço cheio achei


Uma linha de trem também encontrei
Chamada de Transnordestina
Também não sei seu objetivo
Mas o que espero
É que traga o progresso
Para esse sertão de meu Deus
Que há tanto tempo espera o socorro
Que os governantes tanto prometem
Mas ele nunca vem


Depois de quase 500 quilômetros percorridos
Ao Juazeiro cheguei
Era final de tarde
E o cansaço me fizeram um hotel procurar
Sem vagas achar
Acabei dormindo em uma pousada
Que só era melhor do que os ranchos
Porque ar condicionado tinha
A noite foi de cão
E quando o dia chegou
Além de agradecer por ela ter acabado
Só conseguia me lembrar da música do cantor Gilliarde
Aquela mesma, onde dois bichos fizeram a festa embaixo do colchão


O sol a pino e é hora do horto subir
A pista cortando a serra
E de longe se avistava os caminhões de romeiros
Que mesmo diante do desconforto
A fé os faziam não parar de subir


Cada rosto uma história e uma luta
Uma oração e uma graça alcançada
E ao final dos degraus
Mais alguns milhões de promessas pagas


Quem vai até lá pode ver
As réplicas que contam o dia-a-dia do Padre
Ver a casa e até ele na mesa de jantar
Mas o que de fato se ver
É a comercialização dos artigos de fé


O que de mais achei interessante
Foi o principal meio de vida do povo local
O comércio é até grande
Mas nas ruas e no horto
O que tem elevado ao quadrado é pedinte
Homem, mulher
Menino, menina
Velho, novo
Esticam a mão para cada romeiro que passa
E nem se quer querem saber
Se o único dinheiro que juntaram no ano
Estavam gastando
Para aquela promessa pagar


Igrejas muito bonitas
Grandes construções no sertão
Da vista da janela do segundo dia já se via
O Padre lá do alto
De mãos estendidas
Abençoando a população


No terceiro dia do Juazeiro saí
Posso até ter esquecido de me despedir
Mas não esqueci de pedir
Pedir que Deus abençoe esse tão sofrido sertão
E que ele possa não mais permitir
Que nenhum sertanejo morra de fome e sede
Que é a sina de quem mora no sertão.



14/10/2012
RITA BRITO





Nenhum comentário:

Postar um comentário